Parto e coronavírus

 

 

Em meio a pandemia de coronavírus os hospitais superlotados e os esforços voltados para a contenção da Covid-19, algumas mulheres optaram pelo parto em casa. Em meio a incertezas, as futuras mamães contam as histórias delas.

 

berço estava montado, as férias programadas, amigos avisados e tudo pronto para a chegada do Theo.

Mas, o que Patrícia e André não esperavam era uma crise de saúde mundial bem na época do nascimento do primeiro filho. O casal teve que cancelar o chá de bebê, adaptar as fotos da gravidez para um esquema mais caseiro e mudar a rotina de exames médicos.

Patricia Miyagi é professora e tinha planejado juntar as férias com a licença maternidade, mas por causa do coronavírus viu tudo mudar. “A pior parte de tudo isso é a incerteza que fica no nosso dia a dia e no nosso futuro”, conta. E completa: “De não saber se o meu obstetra vai tá doente ou não, quando eu entrar em trabalho de parto e meu filho chegar. Eu não sei se a maternidade vai tá lotada ou não, eu não sei se toda equipe médica de parto humanizado que eu escolhi vai tá disponível ou não, se eles vão estar doentes ou não. Essa incerteza que é a pior parte. A gente tem que manter os nervos com os hormônio da gravidez e ainda ter que deixar de pensar no futuro e tentar pensar só no agora pra não enlouquecer”.

Quem também está prestes a dar à luz é a veterinária Dayane Farinazzo. Apesar do receio com a crise na saúde, ela manteve tudo certo para ter o bebê no hospital que escolheu: “O hospital que eu pretendo ir ele tá tomando medidas de segurança, tão restringindo visitas, separando as pessoas, supostamente, contaminadas pelo vírus pra uma ala diferente da ala das mulheres que tão em trabalho de parto… Então enfim, existem as medidas que o hospital toma pra proteger a mulher e a gente tem que passar pelo risco né, a gente não tem muito outra opção”.

Diferentemente da Dayane, algumas mulheres não querem ir para os hospitais em meio a pandemia. A obstetriz Gabriele Miranda trabalha com um grupo de profissionais que realiza partos em casa.

“Outras mulheres chegaram até nós com o objetivo do parto domiciliar por conta do coronavírus, então tem um aumento pela procura do parto domiciliar”, conta Miranda.

A obstetriz garante que o parto pode ocorrer em qualquer casa, só é preciso ter um chuveiro com água quente e algumas coisas extras, como lençóis descartáveis e um lanchinho para os profissionais.

Mas dar a luz em casa ainda é um tabu em muitas famílias, como na desse grávida que escolheu ter o bebê longe de hospitais, mas sofreu repreensão de familiares e hoje prefere não se identificar.

“Esse tema de parto domiciliar realmente ainda é muito tabu, tanto é que eu decidi não contar ainda pra minha família. Eu não gosto desse ambiente hospitalar, mas agora com esse momento de pandemia de coronavírus com certeza isso ficou ainda mais forte pra mim de não ir para um ambiente hospitalar. Pra mim não faz sentido, se é pra ficar em casa então vamos ficar em casa o máximo que puder, inclusive no momento do parto, né?”, relata a grávida.

A equipe leva todos os equipamentos necessários, como insumo hospitalar, oxigênio, sonar para ouvir os batimentos do bebê, maca de transporte, ambu neonatal e outros aparelhos.

No entanto, Gabriele Miranda alerta que não são todas as mulheres que podem parir em casa: “Essa mulher precisa ter um pré natal bem acompanhado, com todos os exames mínimos necessários, ou seja, a gente não pode atender um parto domiciliar de uma mulher que tem diabete ou que tem hipertensão ou distúrbios de coagulopatia. Enfim, qualquer condição que tira ela da classificação de baixo risco. Então o parto domiciliar não é pra todas as mulheres”.

Para essas mulheres, não é preciso pânico. Os partos ocorrem normalmente nos hospitais públicos e privados, a diferença é que agora as restrições de segurança hospitalar estão reforçadas, e as visitas restritas.

*Por Marcella Lourenzetto